"Nossa forma de interação com os animais deve ser a da emoção"
Marina Gold
Aconteceu na Rússia. Numa ação de marketing, para promover o turismo de veraneio "sim, lá no outro hemisfério, é verão!" na praia de Golubitskaya (mar de Azov), sul da Rússia, empresários, processados por crueldade contra animais, lançaram no ar um pobre burro, pendurado, muito improvisadamente, num parapente. O animal, como qualquer garotinho de escola fundamental saberia, deveras assustado, voou zurrando de aflição e criou, contrário a todas as "inteligentes" expectativas dos promotores, aquilo que se convenciona chamar de anti-propaganda: despencou no mar e foi resgatado ferido, pela polícia.
A história não passa de um fiapinho no copioso tecido das incongruências humanas, mas dá o que pensar e revela questões e curiosidades a respeito da forma como vemos o mundo ao nosso redor, acreditando inevitavelmente que tudo e todas as coisas estão aqui para nos servir; colocando-nos, injustificadamente, no centro e entendendo a mecânica da realidade como dependente inteiramente das nossas vontades e necessidades desmedidamente impositivas.
Tudo isso me fez pensar novamente numa questão que já me interessou bastante: a existência da alma dos animais, li livros e debati com pesquisadores. Hoje, cada vez mais, talvez por motivação da maior maturidade de vida, preocupo-me mesmo e cada vez mais intensamente com a alma humana, ou sua falta.
O burrinho me fez refletir sobre um dos mais áridos temas da filosofia atual, a questão do direito dos animais. Esse assunto está ligado ao problema da consciência. Na nossa tradição temos direitos quando temos consciência, até nosso critério de morte baseia-se na idéia de morte cerebral - estamos mortos quando o cérebro deixa de funcionar.
O que gostaria de saber é se esse "critério da consciência" deve mesmo ser aplicado aos animais. Não dá para encontrar um percurso mais fácil, um caminho mais vantajoso e útil para lidarmos com os bichos? Acredito que sim. Devemos olhar menos para os complicados julgamentos da filosofia (passando por cérebro, mente e consciência), confiar menos no nosso conhecimento científico e mais naquilo que sobra nos animais: intuição. Pouco importa se os animais são estúpidos ou não... nós não o somos. Deveríamos, por isso mesmo, entender que a realidade dos animais é muito diferente da nossa. Nossa forma de interação com eles deve ser a da emoção, e ela deve preceder e legitimar a maneira como os tratamos.
A bioética nem imaginava existir, e os caminhos consagrados e tradicionais de espiritualização propunham, com bases na emoção e na moral, soluções para a discussão a respeito do jeito como devemos tratar os animais. São propostas simples, ingênuas algumas vezes, mas sabem olhar para o universo e para o futuro equilibradamente - e não é disso que nós e os burrinhos precisamos?
Especial para Terra
Marina Gold
Aconteceu na Rússia. Numa ação de marketing, para promover o turismo de veraneio "sim, lá no outro hemisfério, é verão!" na praia de Golubitskaya (mar de Azov), sul da Rússia, empresários, processados por crueldade contra animais, lançaram no ar um pobre burro, pendurado, muito improvisadamente, num parapente. O animal, como qualquer garotinho de escola fundamental saberia, deveras assustado, voou zurrando de aflição e criou, contrário a todas as "inteligentes" expectativas dos promotores, aquilo que se convenciona chamar de anti-propaganda: despencou no mar e foi resgatado ferido, pela polícia.
A história não passa de um fiapinho no copioso tecido das incongruências humanas, mas dá o que pensar e revela questões e curiosidades a respeito da forma como vemos o mundo ao nosso redor, acreditando inevitavelmente que tudo e todas as coisas estão aqui para nos servir; colocando-nos, injustificadamente, no centro e entendendo a mecânica da realidade como dependente inteiramente das nossas vontades e necessidades desmedidamente impositivas.
Tudo isso me fez pensar novamente numa questão que já me interessou bastante: a existência da alma dos animais, li livros e debati com pesquisadores. Hoje, cada vez mais, talvez por motivação da maior maturidade de vida, preocupo-me mesmo e cada vez mais intensamente com a alma humana, ou sua falta.
O burrinho me fez refletir sobre um dos mais áridos temas da filosofia atual, a questão do direito dos animais. Esse assunto está ligado ao problema da consciência. Na nossa tradição temos direitos quando temos consciência, até nosso critério de morte baseia-se na idéia de morte cerebral - estamos mortos quando o cérebro deixa de funcionar.
O que gostaria de saber é se esse "critério da consciência" deve mesmo ser aplicado aos animais. Não dá para encontrar um percurso mais fácil, um caminho mais vantajoso e útil para lidarmos com os bichos? Acredito que sim. Devemos olhar menos para os complicados julgamentos da filosofia (passando por cérebro, mente e consciência), confiar menos no nosso conhecimento científico e mais naquilo que sobra nos animais: intuição. Pouco importa se os animais são estúpidos ou não... nós não o somos. Deveríamos, por isso mesmo, entender que a realidade dos animais é muito diferente da nossa. Nossa forma de interação com eles deve ser a da emoção, e ela deve preceder e legitimar a maneira como os tratamos.
A bioética nem imaginava existir, e os caminhos consagrados e tradicionais de espiritualização propunham, com bases na emoção e na moral, soluções para a discussão a respeito do jeito como devemos tratar os animais. São propostas simples, ingênuas algumas vezes, mas sabem olhar para o universo e para o futuro equilibradamente - e não é disso que nós e os burrinhos precisamos?
Especial para Terra
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