Aceitar a eutanásia do seu animalzinho é decisão difícil e polêmica. Alternativa deve ser tomada se o bem-estar do bichinho estiver comprometido pela idade ou doenças
Jacques Waller-JC
Só de tocar no assunto, a estudante de medicina Marília Burégio, 22 anos, já fica emocionada. Há sete anos ela teve que concordar que o seu pastor alemão, que tinha desde criança, fosse sacrificado. O amigo querido tinha contraído cinomose e, como consequência, perdeu a visão. Como ela, outras pessoas encontram-se neste dilema: encerrar o sofrimento de um animal ferido ou prolongar a vida do companheiro, mesmo correndo o risco de estender seu sofrimento.
“Quando percebemos que ele estava doente, meu cachorro já estava bem debilitado”, conta Marília, que diz que tentou salvar o animal, mas que o risco que ele impunha aos seus parentes fez a família tomar a dolorosa decisão de sacrificá-lo. “Ele foi tratado e melhorou, mas ficou cego. Assim, passou a estranhar quem se aproximava. Mordia as pessoas. Acho que o sacrifício não foi o melhor para ele, que só perdeu a visão, mas foi melhor para a as pessoas que cuidavam dele”, lamenta.
A decisão é sempre polêmica. Tanto que o veterinário Anderson Ramos aconselha o sacrifício de animais de estimação apenas em casos extremamente graves, como câncer, idade muito avançada, falência múltipla de órgãos ou politraumatismos.
“O critério é a qualidade de vida do animal. Quando ele não tem mais qualidade de vida, mesmo que razoável, então, deve-se considerar a possibilidade da eutanásia. Um animal que não pode mais comer sozinho, ou não tem controle sobre seu corpo deve ser poupado da dor. Até porque, eles não têm noção do seu sofrimento”, alerta Ramos. O veterinário esclarece também que apenas um especialista pode decidir sobre o sacrifício, mesmo que os donos sugiram a eutanásia.
Mas há quem acredite na recuperação do seu bichinho e, mesmo arriscando aumentar seu sofrimento, invista na busca por uma cura. Foi o caso da veterinária Mychelle Alves, cujo cachorro da raça miniatura pinscher foi atacado por um cão da raça pit bull. “Aconteceu há quatro anos. Ele importunou o pit bull, que o mordeu. Não teve a intenção de matar, mas como a diferença de tamanho é grande, a mordida machucou muito”, diz.
Mychelle lembra que ele teve a caixa torácica dilacerada, expondo o coração e os pulmões do cãozinho. “Era noite e estávamos no Cabo de Santo Agostinho. O primeiro veterinário que procuramos lá recomendou o sacrifício. Mas eu me recusei, então dirigi até o Recife e, às 3h da manhã, ele foi operado. Está vivo, bem e sem sequelas”, comemora.
Esta não é a primeira vez que ela tem que decidir entre a vida e a morte de um bichinho. “Meu primeiro cachorro teve cinomose, mas não sacrificamos. Tratamos dele até que, um ano depois de diagnosticado, ele morreu. E tive outro que teve cirrose e ainda viveu três anos. É muito triste ter que sacrificar um animal de estimação. Eles são parte da família mesmo”, diz.
Anderson diz que criadores que se recusarem a sacrificar seus bichos devem observar de perto se o animal está se sentindo bem. “De novo, a qualidade de vida deve ser observada. Nesses casos, o limite quem dá é o dono. Deve-se imaginar que é como um paciente humano em coma, sustentado por aparelhos, dependente daqueles que querem esperar por uma melhora ou encerrar o sofrimento”, compara o veterinário.J
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