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SEM PALAVRAS...
Sou aquele que te recebe com um afago e lambe tuas feridas, sem mesmo perguntar se és um assassino ou mesmo como te machucaste a este ponto...
Sou aquele que vive nas matas ou na parede de tua casa se preocupando somente em equilibrar os sistemas de vida do qual tu dependes para sobreviver...
Sou aquele que carrega o peso do teu corpo ou mesmo quinquilharias para tu venderes em troca do pão de cada dia...
Sou aquele que se esfrega em tuas pernas saudando tua existência, e espanta ratos, baratas, mau-olhado somente para que tu tenhas melhores condições de saúde...
Sou aquele que rouba um sorriso de teus lábios quando me vês fazer piruetas ou equilibrar o peso do meu corpo em troca do preço de um ingresso que vai para o bolso do meu dono...
Sou aquele que entre grades do Zoológico te faz pensar o quanto vale a liberdade de viver no habitat que nasceste...
Sou aquele que serve de atração turística em praças fazendo tu sentires o prazer de alimentar-me que retribuo com revoadas de alegria...
Sou aquele servido em travessas, panelas e espeto que, ainda pouco escolhestes no balcão do mercado ou no cardápio do restaurante para simplesmente, saciar tua fome...
Sou aquele que amarrado em mesas cirúrgicas, trancafiado em gaiolas ou mesmo contido em aparelhos de tortura se submete a teus experimentos para alcançares a falsa fama e o poder...
Mesmo sendo aquele que te proporciona tanto, tu me desprezas, me tratas com indiferença, me abandonas nas ruas, me deixas com fome e se desfaz de mim porque envelheci... perdes assim a chance de exercitar teu amor.
Tu me caças, me matas dizendo ter medo da minha pele gelada e destróis todas as formas de sobrevivência... assim, vives perdendo a chance de ver as cores da vida, pois sou a vida em movimento vivo.
Tu me açoitas, me impõe peso maior que posso carregar e me suplicias nos rodeios para ganhares algum dinheiro... mal sabes o mau que faz, não fazendo de mim um companheiro de tua solidão.
Tu me expulsas das praças, das ruas, das vielas só porque tenho no olhar um jeito de ser que nunca vais dominar, e que, realmente, não desejas entender... perdes a chance de conhecer-te e respeitar teu semelhante.
Tua ris de minha humilhação por ficar exposto em picadeiros fazendo acreditares que és poderoso e que teu chicote domina minha paciência e minha ferocidade... perdes muito ao não poder ver tua cara de prazer doentio com um certo sorriso de sadismo.
Tu atiras em minha jaula gargalhadas e gritos não só para mostrar tua falsa liberdade, como também, para me provocares a morte com o tédio e a lembrança dos lugares de onde vim... perdes tanto ao não me visitares no mundo em que nasci.
Tu me acusas de te provocar doenças só porque não consegues aceitar minhas asas e a possibilidade de trazer um ramos de oliveira no bico, anunciando uma nova terra... perdes o rumo do teu barco só porque negas que tenho o segredo da vida.
Tu me abates com degola, com marreta, me empurras para morte com choques... perdes a chance de um viver sadio, pois o veneno de minha carne putrefa em teu corpo levando o desequilíbrio de tuas funções.
Tu não se apiedas do meu sofrimento mesmo sabendo ser inútil testares em mim o que é bom p¿ra ti, porque, somos tão diferentes... perdes a oportunidade de evoluir a ciência de que necessitas para tua cura.
Mas tu não deves entristecer, pois um dia retornarás ao teu planeta e, como conquistador, levarás até alguns de nós para exibir ao teu povo, só que, enquanto não chega o dia que conhecerás o Deus que tanto tu proclamas, nos deixe em paz, ou então, aprenda em nós o saber viver em harmonia.
Sheila Moura
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