Para entender que os animais não precisam ser "cobaias"

Vivissecção é a prática cruenta de utilização de animais vivos com propósitos experimentais. Animais como camundongos, ratos, porquinhos-da-índia, hamsters, coelhos, sapos, aves, cães, gatos, macacos e animais de fazenda são submetidos a diferentes procedimentos destrutivos, tanto fisicamente quando psicologicamente. São exemplos destes procedimentos: realização de cortes e amputações, muitas vezes sem anestesia; ingestão, inalação ou injeção forçada de substâncias tóxicas; privação de água e alimentos ou de convívio social; condicionamento a determinadas reações mediante eletrochoques ou queimaduras; extração de materiais biológicos, etc.

A alegação mais comum para defender estas práticas é a de que seres humanos e animais domésticos são diretamente beneficiados por tais ações. Defende-se que, sem as pesquisas em animais, na atualidade o ser humano não disporia de vacinas, técnicas de transplantes, anestesias, nem das drogas que pretensamente tratam as diferentes doenças. As conseqüências disto seriam um declínio em nossa qualidade de vida, além de diminuição em nossa longevidade. Estas alegações são, no entanto, enganosas. Ocorre que, embora exaustivamente testados e aprovados em animais, todos os tratamentos acima enumerados se mostraram falhos, em sua fase de testes, em produzir efeitos promissores em seres humanos. Muitos deles, apesar da segurança comprovada em animais, produziram efeitos colaterais, e muitas vezes morte, em seres humanos.

Os experimentos prévios, realizados em animais, teriam a pretensa função de impedir que os primeiros seres humanos submetidos a determinado tratamento se tornassem “cobaias” da ciência. O que de fato ocorre, no entanto, é que experimentos em animais simplesmente são conduzidos para amenizar as responsabilidades de laboratórios que lançam no mercado drogas que mais tarde poderão vir a prejudicar seres humanos. É grande o número de drogas aprovadas pela FDA (o órgão responsável por permitir a comercialização de drogas e alimentos nos EUA) que são recolhidas das prateleiras no prazo de um ano após sua colocação no mercado. O motivo deste recolhimento é a detecção de efeitos colaterais na população humana, efeitos estes que não haviam sido detectados em testes em animais. Da mesma forma, embora a tecnologia de transplantes tenha sido toda desenvolvida com base na experimentação animal, os primeiros seres humanos submetidos a estas técnicas padeceram. Foi com base nessas experiências de transplante em seres humanos que deram errado, e não os estudos em animais, que se desenvolveram as técnicas de transplante de que dispomos hoje. Pode-se, então, deduzir que “cobaias” verdadeiras são seres humanos, sendo os animais meros adjuvantes de nossa crueldade.

Com efeito, parece curioso que poucas pessoas se questionem se realmente somos assim tão “dependentes” de todos estes tratamentos e supostos benefícios oferecidos pela medicina moderna. A indústria farmacêutica obtém seus lucros da venda de remédios, e por isso necessita convencer o cliente de que seus produtos são vitais para sua qualidade de vida. Trata-se de um negócio dos mais lucrativos, e como todo bom negócio, esta indústria se organiza em lobbies. Estes lobbies não limitam sua atuação apenas aos consultórios médicos, eles influenciam as políticas de virtualmente todos os governos, a educação formal e, por conseguinte, a forma como a população vê seus produtos.

Esforços são continuamente feitos para convencer a população de que o aumento em nossa expectativa de vida tem relação direta com a enorme disponibilidade de drogas e tratamentos de que dispomos atualmente. Curioso que fatores tais como melhores condições de moradia, de higiene, abastecimento de água limpa, saneamento, segurança alimentar, etc, fatores estes que também passaram a preponderar nas últimas décadas, são frequentemente negligenciados nesses informes em relação à nossa melhor qualidade e maior expectativa de vida.
Por outro lado, a compreensão de que dados obtidos experimentalmente de animais não podem ser extrapolados para seres humanos é simples: Ainda que partilhemos muitas características fisiológicas e metabólicas com os demais animais, é através das diferenças que as individualidades se manifestam. Desta forma, o organismo do ser humano não pode ser visualizado como o organismo do rato 200 vezes mais pesado; a dose letal de uma determinada substância para o rato não poderia ser determinada para o ser humano simplesmente multiplicando seu valor por duzentos. Ratos podem ser imunes a grandes quantidades de determinadas substâncias as quais com poucas gramas poderia se levar um ser humano saudável ao óbito. Drogas que produzem determinados efeitos em determinados animais podem produzir efeitos completamente diferentes em animais de outras espécies. Nem mesmo animais cujo metabolismo aparentemente se assemelha mais ao de seres humanos, como macacos e porcos, são bons modelos de experimentação, porque no que se refere a este assunto, não existe qualquer linearidade que confira cientificidade à extrapolação.

Mesmo entre seres humanos a extrapolação e generalização de dados mostra-se uma atividade perigosa, devido às variações genéticas que ocorrem dentro das próprias populações humanas. Drogas que se mostram efetivas para uma determinada parcela da população podem não ter qualquer efeito, ou no pior dos casos pode significar efeitos adversos, em outra parcela da população. Com efeito, admite-se que as drogas presentes no mercado são efetivas apenas para 30-50% da população. Daí concluir-se que mesmo o ser humano não representa modelo adequado para a pesquisa de medicamentos para a espécie humana. Outrossim, há que se criar drogas específicas com base na ciência genômica.

Por este motivo afirmamos a completa inutilidade científica da experimentação animal, como também nos preocupa que esta seja a base na qual apoiamos nossa ciência. Esta metodologia conduz ao erro, ao atraso, a dados errôneos, á má-interpretação, à incoerência, ao desperdício de vidas, humanas e animais. Desta forma, propomos a abolição da vivissecção em todos os seus níveis, bem como sua substituição por uma ciência mais humanitária e que se baseie em métodos que não utilizem animais, denominados métodos substitutivos.

Sergio Greif
17 de fevereiro de 2012

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