Durante
o 20º Enese, Irvênia Prada proferiu palestra sobre “Educação dos sentimentos” e
a questão da violência nas pessoas. Ela é autoridade mundial na comunidade
científica sobre Neuroanatomia Animal (Foto: Instituto de Cultura
Espírita)
“Temos
que rever todas as nossas atitudes em relação aos animais”, afirma a médica
veterinária Irvênia Prada, professora catedrática da Universidade de São Paulo
(USP). Ela é autoridade mundial na comunidade científica sobre Neuroanatomia
animal. É também uma respeitada investigadora sobre a interação mente-cérebro
dos animais. Tem vários livros e estudos científicos já
publicados.
Esteve,
recentemente, em Fortaleza participando de evento promovido pelo Conselho
Regional de Medicina Veterinária, e também do 20º Encontro de Estudos Espíritas
(20º Enese), uma vez que também é estudiosa desta doutrina. Para Irvênia, os
estudos vêm mostrando, com evidências bastante aceitáveis, que os animais têm
uma estrutura cerebral compatível com a exteriorização da consciência, com
capacidade para resolver problemas, associação de ideias,
memórias.
“O
próprio estudo do cérebro, que é muito bem organizado nos mamíferos e também nas
aves, nos dá indícios de que os animais são seres sencientes, ou seja, que têm
todas as características compatíveis com o que a gente chama de funções
cognitivas”.
Ela
observa que as sociedades se formaram sobre um modelo completamente
antropocêntrico, ou seja, que objetiva apenas o bem-estar do ser humano. Este
modelo se pauta pela exploração dos animais para benefício das próprias
pessoas.
“Por
esta visão, os animais são considerados coisas. Desde, a época de Descartes, o
grande filósofo do século XVII, tem-se essa ideia de que os animais são máquinas
automatizadas, sem sensibilidade. Então considerar que eles são coisas, serviu
muito bem ao modelo antropocêntrico porque, assim, o homem usa os animais sem
culpa nenhuma, utilizando e descartando, como é feito até hoje”, afirma a
professora.
Na
palestra que fez para os veterinários, ela destacou a exigência de revisão deste
paradigma. Segundo observa, atualmente, cresce o número de pessoas que não
aceitam mais este modelo, considerado “indigno” e “mesquinho”. Após a palestra,
Irvênia recebeu muitos comentários de veterinários sobre a importância de
considerar o novo modelo, ainda desconhecido por muitos profissionais de
diferentes áreas do conhecimento.
“Por
que visar só ao nosso bem-estar e não o dos animais que também sofrem? Também
precisamos cuidar das plantas, da qualidade da água, do ar, enfim, de todo o
planeta. Nós temos que abrir os nossos horizontes e cuidar de tudo e não apenas
dos seres humanos. A partir de agora, temos que aceitar essas mudanças e prestar
atenção que os animais sofrem, têm direito à própria vida, e que não são simples
coisas descartáveis”, defende a pesquisadora.
Em
substituição ao antropocentrismo, ela aponta o paradigma biocêntrico ou
ecocêntrico, pelo qual todas as formas de vida merecem ser preservadas com
respeito e sustentabilidade. “Este novo modelo busca o bem-estar do ser humano,
mas também dos animais, das plantas, da qualidade da água, do ar, enfim, de todo
o planeta que é a nossa casa. Se todos moramos aqui, nada melhor do que termos
uma relação harmônica, de paz e felicidade com toda a natureza”. Além de
professora universitária, Irvênia também é assessora técnica do Fórum de
Proteção e Defesa Animal de São Paulo, instituição que congrega mais de 100
entidades protetoras de animais. Nesta função, ela dá pareceres para verificar
se há ou não maus-tratos aos bichos. Já avaliou casos de rodeios, vaquejadas,
entre outras situações de entretenimento para as pessoas, mas de muito
sofrimento para os animais, conseguindo intervenção do Ministério Público e
proibição de práticas abusivas.
“Já
tem muita gente preocupada, vendo que os animais estão sofrendo. Precisamos
contaminar todo mundo com este pensamento. É difícil mas, só através da
informação, é que vamos conseguir fazer com que as pessoas olhem para os animais
com nova postura”, defende ela.
No
20º Enese, a pesquisadora abordou dois temas: “Educação dos Sentimentos” e “A
violência é inata no ser humano?”. O organizador do evento, Francisco
Cajazeiras, também presidente do Instituto de Cultura Espírita do Ceará (ICE-CE)
e da Associação Médico-Espírita do Ceará (AME-CE), diz que convidou Irvênia em
reconhecimento à conceituada palestrante.
“Ela
tem ótimos recursos de comunicação e conhecimentos geral e específico. É
política do nosso evento apresentar novos palestrantes de qualidade para o
público do movimento espírita cearense”, afirma ele.
Entre
os livros de destaque da pesquisadora para o grande público estão “A questão
espiritual do animais” e “A Alma dos Animais”, este último com edição esgotada,
mas já está sendo considerada a possibilidade de reedição atualizada da
publicação.
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